Daniela Soares é um exemplo de Carreira Sem Fronteiras. Acumula experiências profissionais em Portugal e no Quénia. Nesta entrevista, falamos da sua experiência, dos projetos realizados e da sua paixão por África.
Daniela Soares começou a sua carreira em 2014, como estagiária na Caetano Aeronautic. Participou em projetos e contactos com a China e quatro meses depois estava a ser convidada para integrar a equipa da Salvador Caetano África, onde passou pelo Desenvolvimento de negócios, Marketing, Product Manager e Sales Manager. Teve a sua primeira experiência internacional na Caetano Kenya, por um ano. Depois regressa a Portugal, como Head of Product & Logistic.
Neste entrevista vamos falar da sua experiência e perspetivas de futuro.
Fala-nos um pouco sobre as tuas funções atuais, o que fazes hoje na Salvador Caetano África?
Sou a responsável pela equipa de Produto e Logística, a equipa centra-se em backoffice, em Portugal, são
seis Product Manager e três pessoas na Logística. “Estudamos” quais são os produtos disponíveis para África e tentamos posicioná-los, percebemos como é que as viaturas têm enquadramento, ou não, nos
diferentes mercados, e depois, com o devido planeamento, somos responsáveis por dar seguimento a todo o processo de encomenda até a viatura chegar aos mercados.
A experiência acumulada de funções anteriores, como Product Manager, ajuda-me a fazer o que faço agora.
Organizar e motivar as equipas para fazerem o trabalho excelente que fazem hoje, é bastante desafiante,
porque trabalhamos com mais de 30 países, mais de 8 fuso horários e com uma larga dezena de fabricantes.
Podes partilhar como começou a tua carreira e como evolui ao longo do tempo?
São 10 anos a sair de casa de manhã para ir para a Salvador Caetano, e sempre com muita vontade de ajudar e de fazer bem os projetos que temos. Comecei na Caetano Aeronautic, em estágio curricular. Como aprendi mandarim, a minha vida profissional começa comigo sentada, em Oliveira do Douro, a pegar no telefone e a ligar para a China a tentar estabelecer contactos e foi aqui que comecei a trabalhar em projetos. Quatro meses depois recebi um convite para me juntar à SC África. A empresa estava a crescer, havia a necessidade de fazer projetos e acharam que o meu perfil poderia fazer sentido, eu falava línguas e tinha vontade de fazer este trabalho, entro então no setor automóvel.
Também tiveste uma experiência internacional, no Quénia, conta-nos mais sobre este desafio. Como surgiu a oportunidade?
Foi no seguimento de uma viagem em que percebemos que havia uma oportunidade para integrar a equipa do Quénia, foi me feito o convite, e eu com todas as dúvidas e medos que podem imaginar que tive, decidi ir. Tinha muita vontade de correr o risco, de assumir o desafio e de ir viver para fora. Eu já conhecia África bem, já trabalhava há muitos anos, não havia nada que me retraísse, muito pelo contrário, havia muita coisa que me atraía. Voltei ao Marketing, como responsável da área e de CRM, com um projeto que estava em franca expansão em África. Era também a minha missão levar as boas práticas do GSC para a operação do Quénia.
Como foi a adaptação e a conciliação da vida profissional e pessoal durante esta experiência no Quénia?
Esse é o calcanhar de aquiles da experiência. Lembro-me no meio da viagem, pensar “agora estou mais longe de casa do que perto, agora é a sério… tenho que mudar a minha vida toda para o Quénia”, o projeto era para dois anos, na minha cabeça era uma mudança a sério e foi. Para a minha família foi um bocadinho duro, a ausência, e para mim também. É preciso reconstruir uma rede de amigos e de colegas de trabalho, e nos primeiros dias é tudo muito solitário.
Tive a sorte de ter a ajuda do Diretor Geral que era português e que me acompanhou nos primeiros dias. O que fiz foi levar com naturalidade e gerir o dia a dia, sabendo que nada é para sempre, portanto, se ao final de dois meses estivesse infeliz, tinha de voltar, mas também havia a possibilidade de vir a estar extremamente feliz.
Passado cerca de um mês, custou-me muito o choque cultural… As pessoas valorizavam coisas diferentes de mim. Lembro-me de às segundas-feiras perguntar “então o que é que fizeram no fim de semana?” e respondiam, “dormi”, porque era muito importante terem tempo para descansarem, tempo em casa. A cidade é muito grande, tem muito trânsito, acordam muito cedo, caminham a pé durante muito tempo, portanto, para alguém ter o prazer de poder passar um domingo a descansar, é um luxo, e para mim era
exatamente o oposto. Tive de me habituar e adaptar com aquilo que me foi confortável ou procurar
pessoas que sejam mais como eu, fiz um esforço de sair de casa e tentar ir conhecer pessoas. Ao final de alguns meses já tinha o meu grupo de amigos do Quénia, que mantenho ainda hoje.
Houve outra coisa que também me ajudou muito, participar em projetos de voluntariado, fez toda a diferença para mim. No início foi o que me ocupou mais tempo. Dava aulas de francês a crianças que viviam na favela, duas tardes por semana. Ainda hoje faço questão de continuar ligada a eles, de continuar a ajudar. Não é por ser África que temos de ter esta obrigação, eu já fazia voluntariado cá em Portugal, e para mim fez sentido.
Fala-nos sobre alguns dos momentos mais marcantes da tua experiência internacional?
Os projetos de voluntariado são, sem dúvida, das coisas que eu mais destacaria. Uma das coisas que eu me orgulho é termos promovido um estágio com uma criança da favela que precisava para terminar o ensino secundário. Soube desta vontade e disponibilizei-me para ser a coordenadora, o Jacton esteve connosco um mês e meio e correu muito bem, teve um impacto enorme na vida dele e hoje está a fazer faculdade no Quénia. Outro momento, foi o evento de inauguração da marca Kia. Foi um dia muito especial, muitos convidados, também várias pessoas de Portugal, a equipa toda do Quénia foi convidada, e pela primeira vez senti que as pessoas estavam genuinamente felizes. Tiveram todos de fazer esforços para o evento acontecer, e no início houve muita resistência, mas depois de termos conseguido, sinto que toda a gente pensou: “faço parte desta família, vamos ter que fazer esforços uns pelos outros, mas o que importa é que no fim estamos aqui todos a celebrar, correu tudo bem.”. Lembro-me que nas semanas seguintes este espirito ainda sentia-se nos corredores.
Como te adaptaste a diferentes culturas de trabalho? Quais as estratégias que utilizaste para facilitar a adaptação?
Tentar perceber o que é que vai do outro lado, ouvir é muito importante, e depois adaptar a nossa forma de fazer àquilo que faz sentido, ser insistente e procurar alternativas às soluções. Houve alguns processos que tentei digitalizar e aí tivemos sucesso.
Mais difícil no início, mas nesse âmbito o Quénia estava muito predisposto à mudança e a querer progredir. Houve outros projetos e processos que não consegui melhorar. Posso dar o exemplo da Biblioteca Ser Caetano. As pessoas gostam muito de ler e não tinham acesso a muitos livros (repetiam frequentemente os mesmos), e também para tentar motivá-los para temas mais corporativos, tentei criar
uma biblioteca partilhada. Não correu bem, porque a estante não tinha um cadeado… a mim parecia-me
contraprodecente criar um projeto que serve para partilhar e colocar logo à cabeça um entrave. No entretanto, para os colegas, o cadeado era uma regra básica da utilização de algo partilhado, que permite evitar futuros problemas. O controlo e a organização é algo que está intrínseco mesmo nestas coisas mais
pequenas. E não quiseram avançar nos moldes que eu tinha organizado.
Quais foram as principais “lições” que aprendeste ao trabalhar num país diferente e cultura diferente?
Tem que se ser muito humilde, é uma honra poder fazer este exercício todos os dias, para se desmistificar
muitos tabus e para questionar “eu faço assim e funciono assim, mas não quer dizer que o mundo inteiro
faça e não quer dizer que seja a forma correta de o fazer.” É super importante aprender a respeitar e
conhecer o que é que são as tradições, porque é que o fazem e respeitar as pessoas que o fazem.
Um exemplo típico é que se uma reunião marcada não pode acontecer porque do outro lado se está a
celebrar o Ramadão, então temos que respeitar, mesmo que o motivo seja religioso. O que pode ter uma
importância relativa para mim pode não ter a mesma para os outros. Ter esta abertura de pensamento foi uma das maiores lições que retirei.
Que competências considera críticas para ser uma boa profissional na tua função?
Ainda está a ser uma descoberta, ainda tenho muito a aprender, principalmente naquilo que é liderar
pessoas. Há uma coisa que considero importante e tenho essa característica, que é ser consistente. As pessoas precisam de ser lideradas com consistência para fazerem o seu caminho, saber para onde ir, para
onde levar a equipa, “se o objetivo é este, eu quero ir para ali””. Também ajuda eu já ter feito a função, sei o que fazem e como fazem, quais são as dificuldades…. Somos muito transparentes a trabalhar e a trocar
ideias, com a vantagem da minha experiência nesta e noutras funções, às vezes tenho uma visão mais
alargada das coisas e posso ajudá-los mais.
Que conselhos deixarias a quem tem a ambição de fazer uma carreira internacional?
Para mim o que vale a pena são as experiências, isto é uma experiência pessoal, uma experiência Internacional destas permite um crescimento pessoal e profissional, mas sobretudo pessoal, que é muito difícil ter noutro âmbito. Eu sinto que num ano cresci muito mais do que cresceria se não tivesse saído
da minha zona de conforto, portanto, as pessoas que procuram ser melhores, crescer, aprender novas formas de estar e de trabalhar, ver novas realidades, para essas pessoas que têm essa ambição devem
fazer, sem dúvida, porque vão crescer muito, e muito rápido, e isso é muito interessante
Na tua visão, o GSC é um lugar agradável para Trabalhar, Viver e Crescer?
Vale a pena dar o nosso melhor, isso é reconhecido e há a necessidade de ter pessoas líderes capazes.
Portanto, quem procura crescer, evoluir na carreira, ir tendo mais responsabilidade e ir experimentando novas funções, lateralmente ou numa carreira ascendente, pode e deve confiar no GSC, porque há muitas
oportunidades. Para ambas as situações acho que o GSC é uma excelente casa, garantindo sempre que tens alguma segurança e estabilidade. Considero importante a consistência naquilo que se faz e se pretende, para que depois tu possas alcançar os objetivos a que te propões.
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